quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Pés proibidos de parar



Como seria se fossemos nômades por natureza?
Se a morte nos pegasse pela mão caso raízes surgissem dos nossos pés.
Proibidos pelos deuses de ficar mais de um ano no mesmo lugar.
Alguém ia querer acumular?
Mais mala, mais carga, mais cansaço.
Não ia se plantar sempre o mesmo grão.
Não brigaríamos por pedaços de chão.
Metal não teria valor.
Sandália, cavalo, carroça e chapéu sim.
Papel importante ia ser mapa.
A casa a gente ia carregar nas costas.
As fronteiras não fariam sentido.
Não mais guerras.
As universidades seriam tão itinerantes quanto circos.
Professores e palhaços realizariam suas missões primordiais, espalhar conhecimento e alegria.
Nossas pernas seriam fortes.
Nosso pulmão seria forte.
Nosso coração o mais forte de todos, porque com ele ficaria a carga da saudade.
A saudade que fica quando um companheiro segue por outra estrada na encruzilhada.
A memória seria afiada, apontando a agua fresca, relva macia e as surpresas do caminho.
No fim bastaria encostar, descalçar as sandálias e descansar.
E não restaria duvida que se viu tudo que era possível ver numa vida,
Toda estrada possível de ser caminhada,
Toda cachoeira,
Toda noite estrelada,
Todo sorriso e o choro de uma vida.
Sem essas dúvidas pra perturbar o sono poderíamos chegar na clareira do fim do caminho em paz e finalmente dormir eternamente.



(Mário Paulo A. Hennrichs)

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