Já
faz algum tempo que eu fugi de casa
Larguei
tudo, tudo o que eu não tinha
Só
pra ver de onde o vento vinha
Me
aquecer do frio do vento, na brasa
Ou
numa fogueira feita com palha
Agora
não tenho nada, não tenho família
Deixei
meu dinheiro, o conforto, a mobília
Trouxe
comigo a minha velha navalha
Talvez
para preparar um cigarro de palha
Ou
se precisar, na fome, para ir a caça
Dizem
que eu estava fugindo de mim
Não
importa pra onde, não importa o fim
A
gente está sempre indo pra casa
Mas
eu ainda estava preso dentro de mim
Libertado,
estava preso em minha liberdade
Larguei
a mentira, mas não vi a verdade
Cheguei
aqui, por que foi tudo assim
Pra
saciar minha fome, até roubei pão
Pra
saciar minha alma, até fui pra capela
Pra
saciar o mundo, me prenderam num porão
Agora
estou aqui, bem perto do fim
Falando
contigo, que aliás nem existe
Vendo
o quanto o meu corpo resiste
Pois
preso ainda estou, dentro de mim
Invariavelmente,
todo mundo vai morrer
Talvez
eu merecesse melhor sorte
O
imperador já decretou minha morte
Amanhã,
logo após o amanhecer
Ainda
sou muito jovem para morrer
Minha
cabeça pendendo de lado
Não
estou pronto, nem preparado
O
povo vai a praça só pra me ver
Do
crime ainda eu posso recorrer
Mas
não vou apenas adiar meu destino
Pois
todos, do mais velho ao mais menino
Invariavelmente,
todo mundo vai morrer
(Stéphano
Diniz)
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