terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Escamas Poéticas

Escamas Poéticas é um livro de poesias!

O link para acesso abaixo:

Escamas Poéticas pdf

Envelhecer


Quando a gente é bem novo,
a gente quer ser tudo: 
jogador de futebol, super-herói, 
lutador, pirata, astronauta

Quando a gente é adolescente
A gente quer ser maneiro
jogador de futebol, surfista
Paraquedista, mergulhador

Quando a gente é jovem
A gente quer ser importante
Médico, advogado, dentista
Engenheiro, administrador

Quando a gente se forma
A gente quer ser trabalhador
Carteira assinada, FGTS
Plano de Saúde, vale refeição

Quando a gente trabalha
A gente quer segurança
Casa própria, família
Mobília, carro e domingo

Quando a gente é velho
A gente só quer a paz interior
Envelhecer é restringir os sonhos
E desejar apenas o que importa


(Stéphano Diniz)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Meus sapatos

Meus sapatos estavam inquietos
A mochila queria minhas costas
Meus pés tremiam, o peito aberto
Os olhos sentiam a alma disposta
Meu corpo queria sair por aí viajar
Então a estrada veio me chamar

Numa Harley-Davidson, na estrada 
Velejar no mar, linha do horizonte
Caminhar pelas serras e chapadas
Andar por cada vale, cada monte
Sentir o vento no rosto, refrescar
Então a estrada veio me chamar

Não preocupar com quem diz não
Já que um dia todos vamos morrer
Mochila nas costas e pé no chão
Eu sou livre o bastante pra viver!
Sair de casa, abrir as asas e voar
Então a estrada veio me chamar



(Stéphano Diniz)

sábado, 13 de dezembro de 2014

Autoajuda


Ei, tu que está ai parado
Levanta a cabeça e olha
O mundo inteiro lá fora,
em qual Ilha você se trancou?

Observe ao menos um instante,
As flores, as folhas, as abelhas
As pernas e os cantos dos pássaros
Depois olhe pro espaço, ao léu

Tenha um instante só seu,
Nem que seja em um cigarro
Trague suas angustias e fora
Vomite o incômodo, o breu

Crie tempo pra pensar,
passe horas no banheiro
(depois de descarga)
Suje a água límpida, na privada
Não se esqueça dos amigos
Os inimigos tem informações,
importantes, confidêncie, confabule
E depois perca tudo, não vale a pena

Esteja atento, na espreita
Desconfie da palavra do sábio
Escute o mendigo, o gari
E passe horas a sorrir...

Se venda as vezes também
Desse um preço, compre
Pague quando quiser...
Mas nunca faça de outros mercadoria

E nos dias que faltarem,
Lábios que lhe esqueceram
Os ouvidos que não escutaram,
A tua voz será vã outra vez

Mas não desista agora,
Não. Não desista nunca
a porta que abre e fecha,
aguarda ansiosa sua volta

Caminhe em frente, siga
Mesmo que não deverás,
aqueles que não merecem
sentirão saudade, sua falta

Guarde o Poema na cachola,
 E um dia recite pra Ela...
Sem somar, que não vale a pena

Mas ande, que a Vida é Bela!

(Iberê Martí)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

A VERDADE


Nunca se calam, Aqueles
Mesmo de frente pra bala
Que corta o corpo e a fala
Na tumba da mentira...

Nunca se calam, Eles
Mesmo de olhos pra morte
Choram as mães e filhos, má Sorte
Nas mãos sujas do opressor...

Nunca se calam, Elas
E no esperma se lavam
Os machos que ansiavam,
O ventre de outra adentrar

Nunca se cala, o Povo
Lei, a Justiça da mordaça
Na cortina de fumaça,
As línguas eternas do fuxico!


(Iberê Martí)

Geminiano


Somente nós gemíamos,
carregamos um privilegio ‘inato’
Enxergamos de dúbia maneira:
A alegria e a tristeza,
A beleza e a feiura
O sorriso e a dor,
O amor e o ódio,
A vingança e o perdão
A razão e o instinto
O azar e a sorte,
A morte e a vida,
O espinho e a flor...

Observamos tudo,
como o Destino é rasteira
igual roda de capoeira,
ou dança ou engole poeira...

Então,
A piada com o Outro não tem menor graça
o esquisito é nosso semelhante
a dor alheia é nossa desgraça
o melhor não é bom o bastante

Muito embora eu duvide,
Das constelações que interferem bactérias
mutagênicas evoluindo...

O Universo do gêmeos é,
Careta e ranzinza...
Ou é puro discernimento?


 (Iberê Martí)

Quando a língua escapa

Quando a língua escapa,
pela boca de palavras mudas
Procrastinadas e afoitas,
como se fosse um tolo.
E ao teu universo foge,
o controle de si...
Eis que (re)nasce um Sonho,
com sabor de utopia...
Tu não controla nada,
somente ganha os ineptos.
Mas há o Coração que pulsa
em um impulsivo puro,
destas que movem,
Artérias...
Sangue que circula fluido
Toca-se depois e,
Sente...
Tu ainda está VIVO,
E o Âmago é latente!


(Iberê Martí)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Terras das Carambolas


Se a alma pouco encanta
Nos olhos de ninguém vejo,
Árvore, utopia ou planta...
Lágrimas com gosto de beijo

Moro na Terra das Carambolas
Um planeta muito distante
Muito longe desta aldeola,
Marte é vermelho, irradiante

Se faço um corte perpendicular
Uma estrela brilha no céu,
reflexo único e cintilar
Um ensejo cúmplice do léu

Mas se a lâmina é paralela,
Rabisco em forma de lua
Um desenho livre de tutela
A minha casa é a rua...

Habito a mansão dos poetas
Poeira do cosmos, sou quimera
Se lhe engano pseudo profeta,
Almejo e sonho com a Primavera


(Iberê Martí)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Minh'alma


Se é pra vender alma a alguém
Por que não vender a Deus?
Porque ele age com desdem
Nunca ouve os anseios meus

É só mais um descalabro
Ou será que perdi o juízo?
Vender a alma pro Diabo
Para morar num paraíso?

Nem Deus, nem o tinhoso
Nao adiantou muito ter fé
Se for depender de ajuda
Parece que eu fico a pé

(Stéphano Diniz)

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Tens coragem

Tens coragem de me dar tua mão?
Como ti, também sinto medo,
Pois meu passado encarcera meu futuro...

Em minhas inseguranças
Trancafio o coração
para impedir a dor
mas também o prazer...

Tudo isso por medo
de me perder de novo
ao perder-te...

E ao menor indício que me deixarás
te deixo antes
só para que meu orgulho já tão ferido
não maltrate ainda mais minha alma.

E assim fujo da batalha
antes mesmo de travá-la
E perco onde poderia sair vencedor...


(Joana Cajazeiro)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Conhecimento


Das dores milhares de mil, qual é menos dolorida?
Uma capsula atravessando a cabeça doce
Uma dose de cicuta agarrada na garganta
Uma foice que lança o pescoço ao alto
A indiferença fria de uma amor bucólico
A cirrose lenta devastando o fígado cansado
A guilhotina pelo pão roubado as crianças
Um passo em falso em um campo minado
O avião arredio que arrebata para o chão
A vingança sem escolha de um crime comprado
Uma picareta esfacelando o cérebro em pedaços
O carro capotado na insônia da noite
A faca traiçoeira de uma amante esquecida
O dedo riste e seco da verdade na palavra amiga
A fome na boca do peito de uma mãe sem leite
Um projetil desvairado ao céu, sob o peso da gravidade
O atropelamento em uma rodovia abandonada
Um câncer absurdo espalhado até a alma
A pneumonia de uma tosse silenciosa e eterna
A inocência leiga de uma bala perdida, que lhe encontra
Uma bomba atômica no formato de rosa
Uma cobra peçonhenta degenerando células
Anti depressivo corroendo os músculos
A fumaça ácida empobrecendo os pulmões
A ilusão radioativa debruçada no analógico virtual
Um copo de leite com soda, talvez três quilos de couve

Ou uma vida inteira dedicada a compreender um mundo,
                              [que nunca se reformará]

(Iberê Martí)