sábado, 3 de maio de 2014

LapaCidade


 

Há cidade e seus presídios

Seus prédios abandonados

E seus casebres,

Amontoados.
 

Teu povo abandonado

O louco caído no chão,

E a fria cerveja ao lado.

A indiferença do Estado,

Abandonado

Conforma suas formas,

Largadas

E a moça abandonada

Há moça artista despejada,

Despejando vida abandonada,

Na janela da rua enfeitada

Teatro de cor desbotada.
 

Teu calor humano,

Lapa abandonada.

Este cheiro, cheiro de abandono

Cheio de gente abandonada.

Fel da vida, gosto abandonado.

Marca a noite despejada,

Na correria do dia a dia,

Abandonada.
 

Sentimentos soltos, conversa lavada,

Peito vazio, proza afinada.

Rio nem é Janeiro,

Sexta ou carnaval?

Tudo igualmente abandonado.

Não sei se voltei.
 

Votei no abandono,

E aqui fiquei,

Abandonado.

Tropeçando em pedras,

E muros nas portas de meu,

Abandono.

A meretrizes, e seus homens

Abandonados.

Despidos no carro apresado,

O turista levado, abandonado.

Tudo é tão abandono,

Como mal cheiro acostumado,

Cuspido, vestido, jogado.
 

Na porta do lixo,

Sento no balcão do luxo

O desprezo abandonado,

Tanta gente despejada,

Vestindo Abandono.

O trono da solidão...

Lapa rio, mensagem codificada,

Fruto do abandono dos homens

Mar ou riacho, sujo estrume no chão

A segurança perto do abandono.
 

Um monte de rei sem trono,

Pisando no abandono...

Sou mar ou riacho,

Meu rio amado,

De cima és lindo,

Debaixo, diacho,

Esgoto abandonado!

 

(Iberê Martí)

Nenhum comentário:

Postar um comentário