As gaivotas não contemplam o
pôr do sol.
E poente que admira todas as
tardes há revoada.
(Magnificando de maneira
sublime seu voo.)
Disto tenho quase toda e
completa certeza.
Assim como gostaria de
morder a bochecha de um crepúsculo,
E beber o delírio húmido do
orvalho na alvorada.
Por muito tempo achei que me
sobravam parafusos. Até descobrir que carrego os de menos.
Os De Menos, os abandonados
me interessam. Perto deles sou livre da timidez
(Está dadiva perversa que me
acompanha deste os tempos remotos)
O Abandono, talvez por
prática própria, é liberto da usura.
Querem pouco, almejam nada.
E tem tanto a nos ensinar – andarilhos de ouvidos atinados!
Não sou tímido por obra do
acaso, ou descaso da genética.
Pouco menos me importa as
rédeas que me conceituam difícil.
Tenho um prazer por este
vício inestimado na superficialidade alheia
É profundo de mais meu abismo
pra permitir entregar outros.
Entretanto, jamais travarei
briga ou inimizade com alguém - me confidenciou certa vez uma amiga.
(Ela me conhecia mais que eu? E Já se vai
tanto tempo)
Pouco me conheço, bem como
poucos se conhecem por inteiro.
Seria um exagero admitir que
no relento caminha minha identidade
Só assim pra rejeitar
mamadeira, no auge dos nove meses de idade, e tomar leite no copo.
Eu tenho um dom de
liberdade.
Uma vocação de
independência.
Uma doação de autonomia.
Uma procrastinação pra
piedade.
Quase nunca pedi algo ou
demonstrei fraqueza.
Tenho tantos de outros em
mim. Carrego tantas dores,
adentro olhos em leituras
dinâmicas. (Inconsistente é obvio.)
E há quanto tempo não
conheço alguém que reconheça meio Eu.
Até que no lixo, um preto e
pobre, miserável Poeta
Recitando Cecilia Meireles.
Me deixa mudo e outra vez sem resposta:
- “Porque você é assim? Pra
que tentar abraçar o mundo? Teu coração não cabe dentro do tamanho de seu
peito!”
Livre ave, um poeta cheio de
palavras com a boca em silêncio, sem resposta.
Preso as armadilhas do tempo
e do espaço, transeuntes.
E como nadar em dinheiro e não
haver nada pra comprar.
Como sentir fome, segurar um
caqui na mão e não poder morder.
Como sentir sede diante um
rio e não conseguir beber.
Como um arqueiro sem mãos.
Um cavaleiro sem pernas.
Uma águia sem presas. Um
tamanduá com pressa.
Como um atleta piado. Um
artilheiro sem gols.
Um canoeiro sem rio. Uma
canoa sem remo.
Pólvora sem pavio. Barão sem
escravos.
Navegador sem bússola.
Mestre sem discípulos.
Carpinteiro sem compasso.
Agricultor sem terra.
Como os tímidos platônicos.
Amante sem amada.
Lá onde os pensamentos
engarrafam na boca,
E as palavras arranham e
travam na escuridão da garganta.
Neste olhar que vai fundo -
mais profundo que poço em deserto -
Vasculha o céu em busca de
algum pergaminho perdido.
Cruel vida ou destino dos
sonhadores, não. Ave Maria. (Dona e senhora de nossas graças.)
A gente que é besta, vive
buscando as respostas exatas com as pessoas retas.
(Ou pessoas certas
insistindo com as perguntas erradas.)
Estes são, por hora, martírios
de um coração aluado.
Tímido, lúcido e sem
respostas. Afogando em seu leito.
Para o preto e pobre,
miserável Poeta fiquei devendo o lamento:
- Como mandar embora a
Timidez!?
Entretanto, desconfio que
esse seja o preço que pagam,
Os que observam e absorvem o
mundo...
(Iberê Martí)
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