quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Inebriar


 

Em pé no balcão do boteco, um trago um gole

Olhar para pessoas distantes na rua

Caminham as promessas que eu não fiz

As mentiras que eu deixei de contar

 

No balcão vendo a mesa vermelha

A cadeira desbotada e vazia

Penso nela, penso nelas

Um trago, um gole outro pensar

 

O atleta corre, o andarilho flutua

O mendigo pedinte, chato

Não tenho tempo pra outros

 

O picareta reclama da sorte

O corno reclama dos negócios

Outro porre, embriagado mundo!

 

(Iberê Martí)

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Assassinatura

 

O meu derradeiro poema ainda não foi escrito

Nem falado, nem largado nem ouvido

Cuspido, mascado; atrevido poema.

Quando assinei o contrato deixei de existir

(Socialmente tomo gotas de cicuta dia a dia.)

Meus sentidos estão cheios. Sentido sem sentimento.

Como são vazios os que estão cheios

Meus olhares estão viciados. Meus ouvidos surdos.

Meu tato sem gosto. Meu cheiro sem sorriso.

Meu eu é uma carroça cheia ferragens

Estou enferrujado para um olhar de criança.

Acomodado nesta mesmice

Esfacelado pelo primata em mim

Que acredita ser deus!

 

(José Tamuya)

Surdez



Hoje eu acordei surdo, dos ouvidos, sem nada ouvir. A princípio, ignorei. Esperei, com a certeza de que ia passar. Mas passou o tempo e a surdez não passou. Depois desesperei. Fiquei com medo de ser pra sempre. Pensei coisas medonhas, mas com o tempo me acalmei. Fui ouvir música, as atuais paradas de sucesso. Mas o rádio silenciou-se. Eu nunca tinha reparado o quanto o silêncio é melhor que as músicas atuais. Resolvi ler um livro. Nunca a estória de um livro foi tão real e sonora. Ao assistir um antigo filme, nunca Charles Chaplin fez tanto sentido. Hoje, eu ouvi o silêncio das bocas cansadas, das palavras que são tão inúteis. Me senti Bethoven ao ouvir música clássica. Me senti Van Gogh ao ver um quadro. Me senti ignorante diante da ignorância moderna. Não sei como vou acordar amanhã. Talvez eu vá num médico. Mas cheguei a conclusão de que, por um dia, o mundo deveria acordar surdo, pra aprender  que o silêncio não é a ausência de voz. As vezes, é a ausência de barulho desnecessário.

 

(Stéphano Diniz)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Eu me caminho


 

Eu caminhava sobre a terra

(Superfícies planas e montanhas)

Sem esperança, livre de expectativas

Caminhava, e caminhando...

Seguia ao encontro,

De outros tantos caminhos.

Caminhei, caminhei sozinho

Paguei o preço de minhas escolhas

“Engoli o pão que o homem amassou”

 

Hoje vago divagando...

No ditado do povinho, na manada do povão

E na garganta do povo:

Quem sou?

 

(Iberê Martí)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Mulher Aquarela


 

A mulher perfeita

Nunca foi descrita,

Por olhos humanos

(Despercebido poeta?)

Talvez estes olhos

Esqueçam Niet

E pronta certeza,

Em tudo que existe.

 

Amar é pecado

Sentir complicado

Que invade e aflora.

Marca peito da gente,

Um segundo por hora.

Em faces e bocas

Lábios doces e beijos.

Cognitivo ignora

 

Não que seja cinzento,

Amargo aflito desejo

Caramelo sorriso,

Esvai “poderoso” juízo.

Antes pudera

Largar o percalço

Esquecer fantasia,

Viver do que existe!

 

Embora a noite é longa

(Às vezes fria e triste)

O edredom aconchega,

O travesseiro resiste.

A vontade impera,

- destas que quimera -

Desenhar outra fonte

Uma nova Aquarela...

 

 “Que descolorirá”!!!

 

 

(Iberê Martí)

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Despedidas


 

Se a água é doce

O mar é salgado,

O leite é quente

O café é amargo.

 

A vida da gente,

Parece carroça

- de boi em disputa -

A cantar na palhoça

 

Na refinada batuta

O maestro da orquestra

Concebe uma festa

 

Pra gente da gente

Pregar uma peça

Adeus ao salgado

 

O doce é amargo,

O quente evaporou,

 A carroça na estrada de terra

(Já não é primavera).

 

A palha caiu,

O maestro sumiu,

 A comédia acabou.

 

Eu agora, quem sou?

Me (re)nascer em despidas,

Despedidas!

 

(Iberê Martí)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Como diria Zé Geraldo



Não se auto afirme por suas próprias palavras
Não queria precisar de se auto afirmar
Apenas faça das suas palavras os seus atos
E deixe as palavras dos outros para te julgar
O importante é você se deixar levar pela voz do coração

Meu amigo, Meu cumpade, Meu irmão
Faça como Zé Geraldo nos ensinou numa canção

Nunca queira ser melhor que teu amigo
Nem deseje ser melhor que o seu pai
O centro do universo não é o seu umbigo
Quem quer ser maior que o outro um dia cai
O importante é hoje você ser maior do que um dia você já foi

Meu amigo, Meu cumpade, Meu irmão
Faça como Zé Geraldo nos ensinou numa canção

Olhe o céu repleto de astros flamejantes
Se há tantas cores, azuis, brancas, vermelhas
Mas não queira ser a estela mais brilhante
Apagando o brilho das outras estelas
O importante é você brilhar além da sua própria imaginação

Meu amigo, Meu cumpade, Meu irmão
Faça como Zé Geraldo nos ensinou numa canção

 

(Stéphano Diniz)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Tudo lá acontece


 

As horas consomem o tempo

Eu aqui na gangorra,

Nesta cadeira balanço

- que me muleta.

 

Mundo lá fora caminha,

As engrenagens giram

O menino roda pião.

A menina corre liberdade.

 

Tudo está como antes

- quando antes tudo mudado -

Eu espero que algo aconteça

 

Esquecer tudo outra vez?

Repetir o velho caminho,

Ou sozinho, compadecer.

 

(Iberê Martí)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Faça amor, não faça jogo

 

Não me reclame promessas vazias

Palavras ao vento, dispersas no espaço

Carrego comigo este dom de abandono

Nos botecos da vida, faço meu "regaço"

 

Não me exclame este ar de certezas

O eterno é seguro igual gelo em chama

Não tenho porto, meu claro é escuro

Arma da guerra só entende quem ama

 

Não procuro por suas vilezas

Sinto poucas saudades

Das noites cinzas de abril

 

Sou eterno até que o sorriso dure,

Inocente até que a mente entre em cena

Adeus ao poema, nasce o homem servil

 

(Iberê Martí)

Esperando Alguém Que Não Existe



Estou tomando um trago num bar
De conhaque e cerveja pra esperar
Esperando alguém que não existe

Estou aqui parado na rua
A noite, olhando pra Lua
Esperando alguém que não existe

Estou perdido dentro de mim
Procurando quem esteja a fim
Esperando alguém que não existe

Estou totalmente perdido na vida
Parado num beco sem saída
Esperando alguém que não existe

Mas na verdade, sim, ela existe!

O que me deixa mais triste
É que pra ela, quem não existe
Sou eu...

 

(Stéphano Diniz)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Bela

 

Este sorriso cheio de vida

Pensamentos envolventes

Bela dona destemida.

Este ar de argumentos

Vibra, transborda

Mil sentidos, sentimentos.

Esta busca incessante

Anuncia a renúncia

Treslouca instantes.

Estes olhos questionadores

Sublime simples beleza

Margeia admiradores.

Esta face inocente

Ilumina visões

Multiplica toda gente.

Este minucioso pensar

Atena o poeta

Ao seu caminhar.

Esta fala descompassada

Pausa e exclama, mistura:

És há mais bela

Alvorada!

 

(Iberê Martí)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Conta de mim

 

Tempo saudoso tenho quando saudade descansar, sob sombra de candeia

Um mineiro aprumado em boteco, pernas cruzadas, palheiro na mão,

[Cachacinha ao lado (o copo no chão); sem demonstrar qualquer saudade do Tempo.]

- De longe os olhos negam até mesmo preocupação. Coisa boba, miúda

Minas dos passos lentos, calmaria, receptiva e calorosa candura.

A pressa estampada em movimentos

Os ponteiros parados, o relógio desajuizado levado pelo vento feito pluma

Perpetuar aqui, pendurar as chuteiras, ao pé da copaíba,

          [enfeitada de cores folhas novas renovadas, e mergulhar nas cachoeiras]

E suas cristalinas geladas. Anoite anotar o céu, qual formato da lua,

Variante, dia a dia. Assistir ao horizonte no topo da serra, pôr do sol

Com o peito que pulsa dentro deste mineiro (des)herdado que vós fala

Reboliço desta mistura brasileira, Minh ‘alma mineira,

Agora quem toma conta de mim

 

(Iberê Martí)

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O QUE NÃO ERA MAIS POSSÍVEL


 
Com lágrimas de tristeza retomou suas lembranças...
E lhe foi trágica a constatação que obtivera:
Aqueles momentos passados se esvaíram,
Não era possível revivê-los a não ser pela saudade,
uma ausência no presente...
 
Descobrira que a felicidade passara,
Sem que ao menos fosse percebida e desfrutada.
E com a garganta pulsando sentiu
a dor do que se foi sem ter sido,
A dor de que o futuro com que
tanto se preocupara,
E que agora era presente,
Era apenas nostalgia do que não aproveitara...
 
E assim passou mais um dia que não era presente,
Era um continuo vazio pela falta do passado e espera do futuro...
 
(JOANA CAJAZEIRO)