quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A Escolha


No dia que eu aceitar o Mundo é; frágil e flácido, meticuloso e confuso, simples e complexo. No dia que eu aceitar a loucura lúcida dos que caminham acreditando piamente na felicidade. No dia que eu aceitar o pequeno entendimento místico daqueles que agraciam a paz. No dia que eu aceitar a guerra inerente a essência de uma cultura demasiadamente desconhecida. No dia que eu aceitar a beleza simbólica dos vagalumes inocentes a iluminar os cantinhos do planeta em busca de luz. No dia que eu aceitar a debilidade dos insensatos e fragilidade dos fortes. No dia que um economista globalizar os meus medos e um livro de autoajuda pautar meu dia dia. No dia que eu aceitar a avidez dos que desconfiam e o silêncio dos “conhecedores”. No dia que eu aceitar o isolamento remoto dos poetas e dos artistas. No dia que eu aceitar o entendimento míope corajoso dos ativistas. No dia que eu aceitar as respostas dos filósofos e metafísicos. No dia que eu aceitar as certezas dos revolucionários. No dia que eu aceitar as explicações dos sociólogos. No dia que eu aceitar os desvios cruéis e pueris das estatísticas. No dia que eu aceitar que a ciência é estática, imóvel e imutável. No dia que eu aceitar beber água no lago inalienável da esperança. No dia que eu aceitar a cumplicidade dos que andam em estágio terminal. No dia que eu aceitar apenas calar aos conselhos dos sabedores. No dia que eu aceitar seguir as palavras caídas das bocas dos mestres. No dia que eu aceitar a viseira dos visionários. No dia que eu aceitar a história que contam dos heróis e vilões. No dia que eu aceitar a frieza impávida dos fatos. No dia que eu aceitar as explicações incoerentes explanadas nos argumentos. No dia que eu aceitar a degeneração construtiva concisa na invenção do imaginário. No dia que eu aceitar os calos nas mãos dos carpinteiros do mundo inerentes como hereditários. No dia que eu aceitar a indiferença dos andarilhos. No dia que eu aceitar o caminho, o destino, o trilho e o trem. No dia que eu aceitar o mundo mirabolante penoso dos profetas e deixar de acreditar na Vida. Neste dia – tão somente e unicamente neste instante - terei preterido a minha a Escolha!


(Iberê Martí)

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