A chuva cai, e leva barracões em
encostas. Leva frio aos desabrigados. Atrasa obras. Desmarca encontros,
desencoraja aventuras, desanima viagens, faz as pessoas ficarem mais quietas e
mais tristes em casa. A chuva traz o desânimo ao ser humano moderno, tira o
brio e a vontade do homem de fazer qualquer coisa, a não ser se refugiar em
algum lugar mais ou menos confortável.
Por outro lado, a chuva volta pra
terra, e é anunciada por animais que cantam a sua vinda; abaixa a poeira, limpa
as plantas, enche rios, dá água a quem precisa e a natureza agradece. A chuva
mantêm o homem quieto e longe da natureza. E ainda deixa o cheirinho de chuva,
no mato. Quem é da roça sabe bem disso – eu não sou da roça, mas me contaram um
dia e eu acreditei.
O homem, nessa mania incessante de
querer vencer a natureza, ainda não venceu a chuva. E não vai. A chuva é prova
disso. Além de molhar, esfriar e nos resfriar, nos tira o espírito da coragem,
que nos leva sempre a frente. Nos tranca em casa. Nos tira aquilo que mais
prezamos: a liberdade. Mas não vamos quebrar a cabeça tentando encontrar uma
forma de driblar a chuva. Vamos aceitá-la, assim como já deveríamos ter feito
com outros elementos da natureza. A chuva nos coloca em nosso devido lugar, e
vamos nos colocar lá também. Dá próxima vez que chover, alegre-se. Ouça os
sapos, as cigarras e o canto de outros bichos, mesmo que não haja tais animais
por perto. Saia na chuva e deixe-se molhar por inteiro. Sinta-se bem. E após a
chuva, pense na vida que ela (re)trouxe, e sinta o “cheiro de chuva” – mesmo
que esteja na cidade.
(Stéphano
Diniz)
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