sábado, 13 de julho de 2013

Contraponto


Escrever é o último suspiro da alma
É quando respira o que a garganta não suporta
Lançar mão no contraponto histórico,
[amarrado no fundo do peito]
Enxergar a visão além de formas quadráticas
Absorver o mundo por um modo anti-ângulos
Passear no cosmos sem as leis da metafísica
É acreditar no silêncio do que seria permitido
Tocar a ferida, machucar o machucado (...)

Escrever é abrir o escuro, apontar o prumo na luz
Mastigar espinhos, observar a fragrância rosa
Flutuar no mundo místico sem precisão de alucinógenos
Entregar de bandeja aos cegos a própria cegueira
Andar por entre nuvens, caminhar no sideral espaço
Avistar o disco voador e comunicar com as estrelas
Morrer vivendo, é dar vida as Palavras
Costurar outros trilhos, rabiscar as escrituras (...)

Escrever é tecer uma nova maneira, burlar as profecias
É conversar com deus no mesmo paralelo horizonte
Abraçar o divino sem necessárias vertigens
Convencer a si mesmo, festejando os Sonhos de Morfeu
Amar a vida sem substanciar Afrodite
Sentir paixão sem lutar com Dionísio
Pulsar poesia como fazem os vagalumes, os pirilampos
É criar um novo universo simbólico, vomitar no emblemático (...)

Escrever é desencontrar o nexo, anexar a imaginação
É vogar sem remos pelo pulsar do coração
Boiar nas incertezas, desfazer a solidez
Polir o gasoso, abrilhantar a inocência
Partir o fruto, dividir a soma
Monumentar a multiplicidade, acalentar o acaso
Encontrar com o futuro, e fugir do passado
Rememorar a fantasia, evocar os duendes

Escrever é a Arte construtiva de delirar sob a superfície,
sem plano, polidimensional do Impossível!


(Iberê Martí)

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