Poderia
na vida tudo sim. Mas onde guardaria a necessidade do não? Poderia tudo na vida
perfeito. É qual desafio teria menor graça? Poderia na vida tudo anedota em monotonia. Mas quem seria o artista criador do
improviso? Poderia tudo na vida sabor. Mas onde jogar a culinária mística do
conhecimento. Poderia na vida tudo saber. Mas onde engajaria a mistura no tesão
da descoberta? Poderia tudo na vida quadrado. Mas quantas mãos sangrariam nos ângulos
dos círculos? Poderia na vida tudo pureza. Mas quantos percalços no magistral inconsciente?
Poderia tudo na vida reluzente. Mas haveria notoriedade no brilho das estrelas?
Poderia na vida tudo transparente. Mas qual fim temeroso teria a excitação imersa
na escuridão das surpresas? Poderia tudo na vida em asas. Mas que função para os
pés que insistem em permanecer fixos há gravidade do chão? Poderia na vida tudo
simétrico. Mas que faria com o tempo vago a apontar imperfeições? Poderia tudo na
vida (apenas e simplesmente) bela. Mas onde se esconderia a sutileza da alma
mais linda? Poderia na vida tudo sol. Mas onde haveria a peripécia na doçura
molhada da chuva? Poderia tudo na vida mel. Mas que valor atribuiria às
abelhas? Poderia na vida tudo constante. Mas onde arremessaria o delicioso
prazer contido nas encruzilhadas. Poderia tudo na vida honesto. Mas onde
abraçaria a malícia (magrela) do astuto? Poderia na vida tudo paz. Mas quem
enfrentaria o desconforto da guerra? Poderia tudo na vida franco. Mas onde
caberia o néctar dos mistérios? Poderia na vida tudo reto. Mas onde encontraria
abrigo à tristeza nas tortuosas árvores do cerrado? Poderia tudo na vida
magnifico. Mas onde o invisível teria sentido? Poderia na vida tudo flores. Mas
o que aconteceria com a proteção dos espinhos? Poderia tudo na vida céu. Mas para
qual serventia na secura da terra? Poderia na vida tudo sorrisos. É não há por
que esconder a alegria. Que em conta gotas (dia a dia), segue a refazenda de
nossas metamorfoses, que perambulam como ambulantes (formigas e cigarras);
gritando para o espaço, o poeta e o palhaço: a vida só é completa assim (nesse
jogo entre o bem e o mal). Entre o sobreviver e o viver. Indo e vindo de algum
lugar para lugar algum. Mais adiante (bem distante) de todos os sonhos e
utopias que o Universo das Ideias já conseguiu formular. Pois num é que poderia tudo na vida cíclico, periódico.
Para que em cada final (em festejos o espírito), desperte para outro renascer,
para o norte de novos desafios, possibilidades e caminhos. Há quem veja tudo na
vida em um eterno caminhar: inconstante, imprevisível e imperfeito. E surpreendentemente
Mágica as sublimes marés que levam carregam (em suas gigantescas ondas), o
nosso destino!
(Iberê
Martí)
Nenhum comentário:
Postar um comentário