segunda-feira, 3 de setembro de 2012




Por Jamille Ravel



Ontem um amigo que fiz aqui no Brasil me disse que uma vez estava na roça, à noite, quando viu um disco voador. Era uma luz, estranha, que se movia com rapidez, e parava repentinamente. Afirmou que não era nada que ele já havia visto; sem dúvida, era um disco voador, desses que tem seres extraterrestres. Hoje eu liguei a TV num canal de documentários e passava um programa sobre casas mal assombradas. Mostrou a história de uma casa em que o colchão pegava fogo espontaneamente, e também os objetos caiam ou se moviam, sem explicação alguma. Enfim, sem dúvida, uma casa mal assombrada por fantasmas que possivelmente pensam que ali ainda é lugar deles.
     São duas situações que eu, como cientista, estudiosa das populações humanas, acadêmica, amante da razão e do saber, não posso aceitar. As duas possuem um erro lógico muito com da mente humana: querer explicar tudo, apelando para coisas místicas e extraterrenas quando a coisa parece de fato inexplicável. Comecemos um pouco antes na história da humanidade.
     No início da história dos homens, antes da era da ciência moderna, povos esclarecidos viam relâmpagos caírem, causando destruição no entorno. Era um fenômeno inexplicável. Para estes povos, era tudo castigo de deus ou entidades superiores. Outros povos viam cometas que passavam pelo céu e já acreditava ser fenômeno sobrenatural. Os próprios povos da América Central, antes da chegada dos europeus, ao ver estes chegando sobre cavalos, pensaram que eram uma entidade única, metade humano metade animal. Durante a história humana, ainda aproveitando a ignorância dos povos, se diziam superiores utilizando fenômenos hoje simples pra gente, como utilizar substâncias químicas para transformar água em um líquido vermelho que diziam ser sangue, ou mesmo fazendo coisas se moverem espontaneamente, quando utilizavam simples ímãs. Portanto, na ignorância humana, os povos, diante de alguma coisa que não sabiam explicar, apelavam ao sobrenatural. Algumas coisas que hoje temos alguma explicação simples e plausível.
     Voltando para os dois casos, vamos supor que os relatos sejam reais. Vamos supor também que de fato aconteceu alguma coisa real, que existiu, e que as testemunhas descreveram da forma exata como ocorreu. Por que a coisa que meu amigo viu no céu é um disco voador com ET’s? Só porque teoricamente não sabemos explicar o que é? Não pode ser algum fenômeno que, como os trovões ou cometas na antiguidade, não sabemos porque ocorrem? E os fantasmas? Só porque ocorre aquele conjunto de fenômenos que não explicamos, é prudente já afirmar com certeza serem fantasmas? A nossa ciência já sabe tudo, e o que não podemos explicar tem que ser sobrenatural? Calma lá. Não sejamos tão ignorantes a ponto de não admitir a própria ignorância.
Isso lembra a poesia de um amigo que conheci no Brasil, um curioso sem formação, que estudava o mundo e a vida simplesmente vivendo.

Santa Ignorância, padroeira dos homens cegos
Tamanha tolerância para convencer pregos
Que tem cabeça dura, chata e não mudam opinião
Um homem já falou sobre metamorfose ambulante
Mas como é muito mais confortável ser ignorante
O povo preferiu continuar na caverna de Platão
Quando será que o homem sentirá o violento vento
Da sabedoria, saber utilizar o poder do pensamento
Para acordar, mudar, pensar iluminar esta escuridão
Enquanto isso, a Santa Ignorância lava as mãos

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