segunda-feira, 3 de setembro de 2012




Venho através deste texto discordar totalmente das tuas idéias, propagadas em seu texto intitulado “Coisas Sobrenaturais”.
Talvez em sua terra natal as lendas já tenham caído no esquecimento. As estórias francesas, que se misturam à história francesa, é recheada de casos – verídicos ou não – sobre cavaleiros, castelos, reis e reinos de glória, napoleões, camponeses, Asterix, revoluções. Não creio que teu povo tenha esquecido disso. Creio que você, este ser assexuado, composto apenas pelo lado racional de um ser, tenha se perdido demais nos fatores causa/conseqüência, explicações para tudo, forma científica de ver as coisas, vamos logo montar experimentações e avaliar hipóteses... enfim, a academia (universidade) te fez perder toda a sensibilidade para lidar com aquilo que não vem de revistas científicas.
Todas as vezes que olho para a lua, cheia, branca, linda e mística, nascendo atrás das montanhas e iluminando meus caminhos nas noites escuras, vejo a luta eterna entre o grande cavaleiro São Jorge, contra o temível Dragão. Se você disser que é impossível, lá não tem atmosfera, o homem já foi lá e andou naquele solo, eu digo que é mentira. E afirmo isso com a certeza que você nunca olhou pra Lua Cheia. Não como se deve.
Toda vez que eu reparo em uma planta vejo como é incrível que, sabe-se lá porque, uma semente foi parar ali; de uma coisa tão pequena, apenas com ar, água e um pouco de coisas da terra, ela pode se tornar em tão bela e grande árvore. Grande o suficiente para servir de repouso para os pássaros, que devolvem a gentileza com o mais belo canto.
Todas as vezes que vejo um rodamoinho levantando poeira no terreiro, na roça, sei bem o que é. Preparo já minha garrafa, com cruz na rolha... você não entenderia.  Para você, a mula sem cabeça, que solta fogo pelas ventas, é um paradoxo. O boto que você vê nadando em um rio é diferente do que eu vejo.  E se você não acredita em duendes, gnomos, fadas e principalmente discos voadores e seres extraterrestres, é óbvio que você nunca esteve em São Thomé das Letras.
E se você não viveu nada disso e acha que perdeu a infância, peça a São Longuinho para encontrá-la.
Você nunca entenderá, pois é apenas o lado mais racional daquele ser que vos escreve. Você saltou para uma realidade tão imaginária quanto a dos sacis, fadas, ET’s e seres da floresta. Jamille, você saltou da minha mente num momento em que a sociedade cobra uma inteligência hipócrita, dos falsos sábios. Você veio a corrigir racionalmente estes desvios numa época tão obscura e falso-iluminada. Você é grande e necessária. Mas alto lá! Não desafie a imaginação do povo brasileiro, contrariando aquele que te criou e que te mantém. Você escreve pelas mãos dele, e a ele deve respeito. Não afronte o lado mais infantil, encantado e místico de teu próprio criador. A criatura não vai engolir o criador.
Uma poesia daquele mesmo teu amigo que conhece o mundo caminhando por ele:

Sei que você é doutora, mas largue a calculadora,o que aprendeu estava errado
Observe bem cada planta, onde o pássaro canta, pensa no seu passado
Verdadeira Semente, nem crente nem descrente, porque é assim que deve ser

Olha o milagre da candeia, na rocha que se semeia, sem ninguém pra semear
Cresce no sol e no vento, real ou só pensamento, ninguém pra imaginar
Olha a tartaruga, bicho indefeso só casco e ruga, porém uma vida milenar

Se você não for caipira, a floresta chama o curupira, para te dar uma lição
A não duvidar do nosso Brasil, coisas reais que o povo viu, da nossa imaginação
O poder do nosso folclore, para que nosso povo não chore, diante da desilusão

O saci existe e é real, se você não tem vara de pau, a garrafa com a rolha exata
Verá o mundo em preto e branco, mais triste e mais franco, de terno e gravata
Mas esse mundo de alegria, esta ilha da fantasia, também pode ter você

(Stéphano Diniz)

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