Uma vez, em uma selva de pedra selvagem distante, vazia de bichos e árvores. Cheia de madrugadas e luas estreladas, dessas que enfeitam a bela donzela: o céu da terra. E lá, no silêncio, a venerar, a hora de a onça beber água, dois índios sem sono (sonâmbulos?) empiricamente a "mensagiar" entre tecnologias “célularianas”. O índio rebeldia (respondia por Chá) e o índio ponderado velho (foi “nomado” de Poranga), e dialogavam sobre tantas e quantas coisas desimportantes. Grita liberdade o índio Chá:
Chá:
- Queria levar uma vida bonita e sublime, onde a gente reprime qualquer tipo de
repressão. Eu venho da roça, onde os pássaros gorjeiam bossa, tecendo linda
canção. Lá o céu é grande demais, e o sol ilumina mais, irradiando sua falta de
lucidez. Aqui o sol brilha do mesmo tanto, mostrando que em qualquer canto as
estrelas são vocês.
Poranga:
- Eu queria uma vida simples. Ser simples e viver a sonhar na roça, no sítio ou
em qualquer lugar que caiba e que caibam os amigos, e com certeza um verdadeiro amor. Que vida
dividida que eu levo: entre a razão e a opressão; a consciência e a ciência; o
real e a poesia, vida que segue a estrada de heresia ao encontro dos
descaminhos!
Chá:
- Já dia outro deito em minha “catre”, nesta prisão "ocre”, a trabalhar. Noutro
chego a “maitre”, numa mão frango podre, noutra um candeeiro, me lembra mineiro
a trabalhar num candeal. Cada milímetro de sangue nutre com atrito, o meu átrio
me furta a lembrar se está seria uma outra vida ideal. E após romper o lacre
mental, sabe que estas a vida por demais real.
Poranga:
- Pois do “ceútri” outra terra. Alma vive em guerra. Feito ferida fera. Fel
doce vida que pensa. “siga a correnteza”; ensina o ancião. Não se incomode
cidadão com a coletiva mediocridade, deste tempo por hora líquido.
Chá: - Mas nos ainda escravos da ampulheta! Tua
areia faz a neta carregar a futura neta. E depois de um tempo o tempo nos
atinge com sua bereta. Impiedosa impassível e venenosa seta. Mas deus nos fez
escolher louco ou careta. Se escolheste tua meta, como cometa, não sei se há
escolha correta. A areia cai, a vida vai, se esvai. Se a escolha a de ser
escolhida, escolhemos “La doce vida”. Este é um bom dialogo tupinambiano.
Poranga:
- Nunca escolha alguma fiz. De ilusões a tempos desfiz. Sou artista careta a
todo momento, desde Platão e a caverna dos mitos. A areia, a ampulheta, Raul
quem entende? Eu; tu; aqueles... sou escravo somente, eis de servir
eternamente. O que me sobra hipocrisia, falta ao mundo entropia humanitária!
Mas dentre os escravos, sou livre, em mente!
Chá:
- Quando vejo que as palavras ditas a 40 anos fazem sentido, percebo que o povo
não aprendeu nada. Mas vamos lutar, não sozinhos, ao tempo. Mesmo que lutemos
contra moinhos de vento!
Poranga:
- Não é de vitória os moinhos a lutar. Contra ou a favor do vento “eterna-mente”
a girar. A solidão, das utopias os sonhos, a espera de “felicidade
compartilhada”. Os tupinambás vivem 500 anos “posteriori” ao extermínio. Inflamando o pulso nosso. Livre esse
povo americano latino- do centro e do sul.
Chá:
- Hoje eu entendo o mundo como um parlamento mudo. Que parla, parla, parla e
parla pra lá! Como um nadador nada, nada, nada... e nada. Bastante fala louca,
excessivas bocas. Por demais cordas vocais. Mas estão surdos os ouvidos! Pobres
tímpanos, que na verdade, estão sem utilidade. Portanto, suplico de novo: vamos
ouvir o povo!
Poranga:
- Eu ouço os "mudos" a inundar o parlamento do povo! Pelegos aos chamegos, excretando
na cara o “entreguismo” global. E vomito a cada pranto um “cadin” de
contradição. Viva a democracia de um povo surdo, mudo, cego... consumir incha a forma do ego! O povo usa gravata sem
colarinho... segue apenas o caminho que é permitido. E me indaga um desses,
oprimido- que tanto defendo: -“Por que
pergunta, tonto? Não é feliz a servir. Por que questiona, quanto? Se eu não
ando reclamando de nada... deus vê tudo irmão, nossos Senhores (sem dores)
pagarão. Cada gotícula de suor sangue lágrima, fruto ou fruta de apropriação
indevida. Outras vidas haverão?”.... Ando mudo de resposta até agora. Tem o
que me indica a explicação ou mais perguntas, índio Chá?
Chá: Se há várias vidas, depende do ser e da sorte. O que acho é que há várias mortes.
Assim como não sei há deus fraco ou forte; mas tem "mui" diabo por ai, de sul e
de norte! Não sei se existe a loucura de fato, mas caretice aqui é mato. O que
eu afirmo com veemência é que eu não sei se existe a própria existência!
(Stéphano Diniz e Iberê Martí)
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