quinta-feira, 5 de abril de 2012

A democracia do povo e o papel da Universidade






Qual a diferença entre o certo e errado? Esse foi a primeira grande pergunta que me surgiu, logo, que entrei na Universidade. Será que todos os valores estão invertidos e meus heróis também são seres humanos de carne, osso e pecado? Sempre que se egressa no Ensino superior, e o inegável sentimento de superioridade. Sentimento que vai se desfazendo com o tempo, o mesmo tempo que passa, e passa, e passa, e cresce a descrença, surgindo à certeza que existe uma incrível força que impede que as coisas aconteçam. Uma “burrocracia” que engesse, literalmente, o serviço público.
Da mesma forma que, surgiu esse sentimento que as coisas não deixam de acontecer por acaso. Veio à militância no Movimento Estudantil, muitas vezes criticado, muitas vezes humilhado, muitas vezes desacreditado, muitas vezes ofendido, muitas vezes motivo de ‘piadas’, muitas vezes... Mas, existe algo maior, algo que faz continuar e persistir mesmo sabendo que muitas vezes a luta pode ser é em vã. 
A principal característica do Movimento Estudantil é o inegável caráter de Movimento social, intrinsicamente ligado ao seu dever de defender dos direitos das maiorias, representativamente minoritárias. E apenas uma diferença, e talvez a mais cruéis delas, ser um Movimento social cíclico, as pessoas militam por quatro, cinco anos, alguns menos, outros mais, mas por um período de tempo inegavelmente curto. E passasse mais tempo, desse curto tempo, tentando entender o processo, do que lutando efetivamente para que as coisas aconteçam. E quando começa a ‘sacar’ as regras do jogo, você esta fora, e vêm outros repetir o mesmo processo. As velhas novidades?
Este é um fato inegável, assim como é inegável que existem forças que utilizam dessa suposta inocência para que realmente as coisas não aconteçam. A palavra que aprendi nesse contexto Universitário, e que com certeza mais me abalou, foi: O Corporativismo. E com são corporativos dos segmentos caninamente servidores do capital e de sua vertente de desmobilização social... E o segmento, é o ‘Meu Segmento’? Como se os verdadeiros benéficos não fossem de todos. Pense em todos unidos em prol do melhor, como seria? É mais fácil (o controle), mas é melhor dividir/segmentar?
Não fosse os poucos Estudantes que se envolvem realmente com a Universidade, seria uma ditadura legalizada, cheia de palavras bonitas em seus princípios, meios e fins. Essa mesma observação pode ser utilizadas para tantas outras ‘coisas’ públicas, os três poderes, por exemplo. Mas que na prática é o contrário dos princípios que deve ter. A democracia nas Universidades, e no Brasil, tem um objetivo claro e especifico de legalizar o processo (ditatorial) no papel. Na realidade, as coisas são bem diferentes do que afirmam ser.
E assim será, inclusive amparado pelas Leis, como exemplo a LDB (Lei de Diretrizes e Bases), que garante ao Segmento Docente no máximo 70% de participação nos Conselhos e Colegiados da Universidade. O problema é que o máximo previsto em Lei se torna mínimo. E segue o corporativismo.
É justamente nesse ponto que surge o novo enfoque de luta do Movimento Estudantil, direitos conquistados por militantes no passado, sob sacrifício inclusive vidas. O Movimento Estudantil do passado, que lutou pelas Diretas já; que lutou pelo fora Collor, não acabou como dizem por aí. 
Ao contrario, agora, ele ganha nova força e motivação: a Luta pela Democracia de fato; a luta pela utilização correta e coletiva do que é público, em defesa do Ensino público, gratuito, laico de qualidade, que ofereça o ensino, a pesquisa e a extensão de forma indissociável. A luta do Movimento Estudantil hoje é para que os direitos conquistados no passado tomem vida também fora do papel e se tornem realidade.
E é justamente pelo caráter de Movimente Social, que surge a obrigação do Movimento Estudantil questionar a forma- na prática- que são o ensino, a pesquisa e a extensão na Universidade. Afinal, é uma instituição que tem caráter de pública, financiada por dinheiro da sociedade, que deve ser respeitada, como toda ‘coisa’ pública (e por que não respeitamos que é público, da mesma forma e maneira que a ‘coisa’ privada?). Até que ponto que ponto a Universidade abre as portas à sociedade? Talvez importuno, mas como saber o que pesquisar se não conhecemos os anseios e desejos da população? Como é possível a extensão-transmitir conhecimentos úteis à sociedade-sem a comunicação?
A Universidade dentro do processo de construção da democracia se perde (ou se encontra) em várias lacunas, tanto internas quanto externas. Que surgem desde o corporativismo até mesmo o medo de não cumprir com sua função, o medo de se auto-avaliar e de ser avaliado. E isso, faz com que Governos- de forma oportuna-  não obedeçam a nossa Carta Magna, e apliquem os 10% do PIB na educação, em  investimento no futuro,  na “criação” e difusão do saber. Passo fundamental ao processo de transformação, do surgimento de uma sociedade igualitária e justa. Mas, se não conseguimos difundir, estender e/ou comunicar, como podemos cobrar mais investimentos? Conhecemos nossa importância, mas é o povo, a população?
Talvez com mais perguntas e questionamentos que respostas, talvez com mais dúvidas que afirmações, talvez democrático que autoritário, finalizo este texto com uma proposição - sendo este um dever se considero o Movimento Estudantil verdadeiramente com caráter de movimento social.
Que a sociedade cobre da Universidade o seu papel. Que mais que cobranças, que a sociedade se envolva - participando das decisões, dando sugestões, contribuído com o desenvolvimento acima de tudo vivenciando a Universidade.
Se quisermos democracia, muito além de cobranças, devemos nos envolver e participar do processo de conquista! A Universidade do universo, somente cumprirá com seu papel, quando romper as barreiras e conseguir envolver a sociedade em seu processo de construção. Talvez transformar o Brasil e suas ‘unimultiplicidades’ em uma grande academia. E não é? A Universidade somente será democrática: quando rompermos esses muros invisíveis que existem- que refletindo um pouco com um olhar mais atento, nem tão invisíveis assim! O Brasil somente será democrático: quando for “O governo do povo, pelo povo e para o povo”. E a Universidade tem o dever de contribuir ‘significativamente’ com a luta de seu povo.



(Iberê Martí)

Nenhum comentário:

Postar um comentário